Esôfago de Barrett: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento.
- Dr. Marcelo Vargas Ardenghi

- 27 de out.
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Atualizado: há 1 dia
Saiba o que é, sintomas, diagnóstico e as opções de tratamento endoscópico avançado (como a Terapia BARRX) com o especialista Dr. Marcelo Vargas Ardenghi CRM/SC 12.385, RQE 11.241, RQE 11.367.
Introdução
O Esôfago de Barrett (EB) é uma alteração no revestimento do esôfago que pode ocorrer em pessoas com refluxo gastroesofágico de longa duração. Essa condição, que envolve a substituição do tecido normal do esôfago por um tipo de mucosa mais resistente ao ácido, é considerada uma lesão pré-cancerosa e requer atenção e acompanhamento médico especializado.

Entendemos que receber um diagnóstico como este pode gerar preocupação. No entanto, é fundamental saber que o conhecimento e o diagnóstico precoce são as ferramentas mais poderosas para o manejo eficaz do EB. Este post, elaborado com a nossa expertise em Gastroenterologia e Endoscopia, tem o objetivo de fornecer informações completas, éticas e baseadas em evidências sobre o que é o Esôfago de Barrett, como é feito o diagnóstico e as opções de tratamento do esôfago disponíveis, sempre reforçando que este conteúdo é educativo e não substitui a consulta médica. (Dr. Marcelo Vargas Ardenghi - CRM/SC 12.385, RQE 11.241, RQE 11.367)
O que é o Esôfago de Barrett?
O Esôfago de Barrett é uma complicação da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) crônica [1], na qual o epitélio escamoso (células planas) que normalmente reveste a porção inferior do esôfago é substituído por um epitélio colunar de tipo intestinal, um fenômeno chamado de metaplasia intestinal [2].

Essa mudança na mucosa esofágica é uma resposta de adaptação do organismo à agressão constante do ácido estomacal. Embora essa nova mucosa seja mais resistente ao ácido, ela carrega um risco aumentado de progressão para displasia (alteração celular) e, em uma pequena porcentagem dos casos, para o adenocarcinoma de esôfago, um tipo de câncer [3]. Por isso, o EB é considerado uma condição pré-maligna.
Causas e fatores de risco
A principal causa do Esôfago de Barrett é o refluxo gastroesofágico crônico e não controlado. A exposição prolongada e repetida do esôfago ao conteúdo ácido do estômago e, por vezes, à bile, desencadeia o processo de metaplasia. Além do refluxo, diversos fatores aumentam o risco de desenvolver o EB:
Fator de Risco | Descrição |
|---|---|
Refluxo Gastroesofágico Crônico | Sintomas de azia e regurgitação que persistem por muitos anos. |
Idade | Mais comum em pessoas acima de 50 anos. |
Sexo | Mais prevalente em homens. |
Obesidade | Principalmente o acúmulo de gordura abdominal, que aumenta a pressão sobre o estômago. |
Tabagismo | O hábito de fumar prejudica o esfíncter esofágico inferior, facilitando o refluxo. |
Predisposição Genética | Histórico familiar de Esôfago de Barrett ou adenocarcinoma de esôfago. |
É importante ressaltar que, em alguns casos, o Esôfago de Barrett pode ser silencioso, ou seja, ocorrer em pessoas que não relatam sintomas intensos de refluxo, o que reforça a necessidade da avaliação endoscópica em grupos de risco.
Sintomas e sinais de alerta
É fundamental a precisão clínica: o Esôfago de Barrett (EB) em si é, na maioria das vezes, assintomático. Os sintomas que levam o paciente a procurar o médico são, na verdade, manifestações da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), que é a causa subjacente do Barrett. Os sinais de alerta que indicam a necessidade de investigação endoscópica são os sintomas crônicos e persistentes de refluxo:
Azia (Queimação): Sensação de queimação no peito que pode subir até a garganta.
Regurgitação: Retorno de alimentos ou líquidos ácidos à boca.
Dor Torácica: Dor na região do peito, que pode ser confundida com problemas cardíacos.
Tosse Crônica e Rouquidão: Manifestações atípicas do refluxo.
Atenção ao Sinal de Complicação:
A Dificuldade para Engolir (Disfagia) é um sintoma que merece atenção imediata. Sua presença geralmente não está relacionada ao Barrett assintomático, mas sim a uma complicação avançada, como uma estenose (estreitamento) ou, mais preocupante, a progressão para o adenocarcinoma esofágico. Portanto, o EB é frequentemente descoberto de forma incidental durante a endoscopia digestiva alta realizada para investigar os sintomas crônicos do refluxo ou como parte de um programa de vigilância em pacientes de alto risco.
Como é feito o diagnóstico do Esôfago de Barrett?
O diagnóstico do Esôfago de Barrett é realizado de forma definitiva por meio da endoscopia digestiva alta com biópsia [4].
1. Endoscopia Digestiva Alta: O exame permite ao médico visualizar a mucosa esofágica e identificar a área de metaplasia, que geralmente apresenta uma coloração avermelhada e aveludada, diferente do aspecto pálido e liso do esôfago normal.
2. Biópsia Endoscópica: Durante a endoscopia, o médico retira pequenas amostras de tecido da área suspeita. Essas amostras são enviadas para análise laboratorial (anatomopatológico) para confirmar a presença de metaplasia intestinal e avaliar se há sinais de displasia (alteração celular), que indica um risco maior de progressão para câncer [2, 4].
A biópsia endoscópica é o padrão-ouro para a confirmação, e a vigilância endoscópica regular é a chave para o acompanhamento e detecção precoce de qualquer progressão.
Tratamento e acompanhamento médico
O tratamento do Esôfago de Barrett tem dois objetivos principais: controlar o refluxo gastroesofágico e, quando necessário, tratar as lesões de displasia para prevenir o desenvolvimento do câncer.
1. Controle do Refluxo
O primeiro passo é o tratamento clínico agressivo da DRGE, que geralmente envolve:
Medicamentos: Uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs) para reduzir a produção de ácido estomacal.
Mudanças no Estilo de Vida: Perda de peso, cortar e mastigar bem os alimentos, evitar alimentos que desencadeiam o refluxo, não tomar líquidos durante as refeições, não deitar logo após as refeições, praticar atividades físicas regularmente, uma boa qualidade de sono, elevar a cabeceira da cama e controlar o stress.
2. Tratamentos Endoscópicos
Quando a biópsia revela a presença de displasia (alteração celular), o tratamento endoscópico se torna a melhor opção para remover o tecido doente, evitando a cirurgia [5]. Como especialistas em Endoscopia, realizamos procedimentos avançados como:
Terapia de Ablação por Radiofrequência (RFA - Terapia BARRX): Um tratamento minimamente invasivo que utiliza energia térmica para destruir as células anômalas do Barrett, permitindo que o tecido normal do esôfago se regenere no local [6]. A RFA é recomendada para o tratamento de Esôfago de Barrett com displasia de alto grau (HGD) e deve ser considerada para displasia de baixo grau (LGD) [5, 7].

Mucosectomia Endoscópica: Utilizada para remover lesões mais elevadas ou áreas focais de câncer inicial (T1a) [5].
Também realizamos a gastrostomia endoscópica em casos de suporte nutricional, conforme a necessidade clínica do paciente. É fundamental reforçar que cada caso é avaliado individualmente, e a escolha do tratamento depende do grau de displasia e da extensão do Barrett.
Complicações e prognóstico
A principal complicação do Esôfago de Barrett é a progressão para o adenocarcinoma de esôfago [3]. No entanto, a boa notícia é que a maioria dos pacientes com EB nunca desenvolverá câncer.
O prognóstico é excelente quando o paciente adere a um programa de vigilância endoscópica regular. O acompanhamento médico contínuo permite a detecção e o tratamento de qualquer displasia em estágio inicial, reduzindo drasticamente o risco de progressão para o câncer [6].
Conclusão
O Esôfago de Barrett é uma condição séria, mas gerenciável. A chave para um bom prognóstico reside no diagnóstico de Barrett precoce e no acompanhamento contínuo com um especialista em gastroenterologia e endoscopia.
Se você apresenta refluxo crônico ou tem fatores de risco, como histórico familiar ou obesidade, não hesite em buscar uma avaliação médica. A endoscopia digestiva é um exame rápido e seguro que pode fazer toda a diferença. Lembre-se: o cuidado preventivo e a vigilância especializada são os melhores aliados para garantir a saúde do seu esôfago.
Referências Científicas
[1] Poloniato, LFCV. Esôfago de Barret: Diagnóstico e Manejo. Brazilian Journal of Health and Innovation. 2023. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/742
[2] Rodrigues, MAM. Esôfago de Barrett e displasia: critérios diagnósticos. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/fXBrVkZdYs4VkvSMXWwYqpP/
[3] Reed, CC. Management of Barrett Esophagus Following Endoscopic Eradication Therapy. Clinics in Colon and Rectal Surgery. 2019. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6676349/
[4] Alves, JR. Diagnóstico, tratamento e seguimento do esôfago de Barrett: revisão sistemática. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva. 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1131669
[5] ESGE Guideline. Diagnosis and management of Barrett esophagus. European
Society of Gastrointestinal Endoscopy. Disponível em: https://www.esge.com/diagnosis-and-management-of-barrett-esophagus
[6] Akiyama, J. Managing Barrett's esophagus with radiofrequency ablation. World Journal of Gastroenterology. 2013. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3938010/
[7] American College of Gastroenterology (ACG). Guideline: Diagnóstico e tratamento do esôfago de Barrett. 2022. Disponível em: https://socgastro.org.br/novo/2022/04/guideline-american-college-of-gastroenterology-diagnostico-e-tratamento-do-esofago-de-barrett/
*Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui a avaliação individual de um médico especialista.

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